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Marta Peral Ribeiro

Marta Peral Ribeiro
– Consultora de Comunicação –

Ninguém tem dúvidas: operacionalizar o trabalho durante a pandemia foi um grande desafio para muitas empresas e colaboradores. Mas assumir (e otimizar) um modelo remoto a 100%, ou mesmo híbrido, a longo prazo, é outra coisa. 

Mais flexibilidade e mais autonomia

Remoto, presencial ou híbrido? 5 dias por semana ou menos? 8 horas por dia ou 6? 

A flexibilidade no trabalho tem-se tornado, sobretudo neste último par de anos, uma prioridade para muitos profissionais, levando também as empresas a rever o formato de trabalho em que operam, reavaliando parâmetros como o local, o tempo e a produtividade.

Marta Peral Ribeiro

Marta Peral Ribeiro
– Consultora de Comunicação –

Ninguém tem dúvidas: operacionalizar o trabalho durante a pandemia foi um grande desafio para muitas empresas e colaboradores. Mas assumir (e otimizar) um modelo remoto a 100%, ou mesmo híbrido, a longo prazo, é outra coisa. 

Mais flexibilidade e mais autonomia

Remoto, presencial ou híbrido? 5 dias por semana ou menos? 8 horas por dia ou 6? 

A flexibilidade no trabalho tem-se tornado, sobretudo neste último par de anos, uma prioridade para muitos profissionais, levando também as empresas a rever o formato de trabalho em que operam, reavaliando parâmetros como o local, o tempo e a produtividade.

Este artigo pretende, por um lado, abordar as vantagens de diferentes modelos de trabalho e, por outro, vislumbrar cenários em que as pessoas trabalham menos e produzem o mesmo – ou até mais. 

Trabalho remoto é o futuro?

No regime de trabalho remoto é o trabalhador que normalmente gere o local onde realiza o seu trabalho, bem como o seu horário, com recursos a seu cargo (tecnológicos, etc). Também a remuneração e direitos podem ser diferentes de um funcionário regular da empresa.

  • 82% considera que o trabalho remoto é o futuro
  • 68% dos trabalhadores querem continuar a trabalhar remotamente após a pandemia
  • 42% é o aumento de produtividade notado pelas empresas 

Estes são apenas alguns dados que nos revela o Relatório de Trabalho Remoto 2021.

Em Portugal, muitas pessoas voltaram ao registo de trabalho presencial, mas muitas empresas continuaram em regime remoto. 

Como é evidente, o trabalho remoto não se aplica a todos, porque requerem operações que só podem ser executadas presencialmente. 

Os desafios do trabalho remoto

Apesar de aliciante, o modelo remoto tem o seu revés, mesmo para os trabalhadores. Eis os principais desafios:

A falácia do tempo

Quando se trabalha remotamente – e quem se deparou com o teletrabalho pela primeira vez apercebeu-se rapidamente disso – pode facilmente perder-se a noção do tempo. Em parte, porque já não é gasto em deslocações, mas também devido às interrupções constantes em casa.  

Desconexão

Quando não existe interação presencial com os nossos colegas, a dinâmica é totalmente diferente. É normal que nos sintamos isolados e que se perca o sentimento de pertença dentro da equipa.

Fonte: Unsplash
Falta de foco

Se para algumas pessoas trabalhar a partir de casa dilui as distrações causadas pelos colegas, para outras (especialmente se tiverem familiares ou animais em casa) falta o ambiente da empresa para serem mais produtivas. Afinal, o nosso cérebro tende a associar o espaço físico a um determinado mindset

Esgotamento

Para quem trabalha remotamente nem sempre é fácil manter as rotinas e saber quando parar, mesmo já fora de confinamento. O relatório supracitado demonstra que cerca de metade dos entrevistados teve dificuldades em criar limites relacionados com o tempo de trabalho. 

Gestão e Integração de novos colaboradores

Para um novo funcionário, entrar para uma equipa que mal conhece pode apresentar as suas adversidades. Ser integrado numa nova organização é uma parte importante da experiência do indivíduo, e requer bastante tato de ambas as partes. 

As vantagens do modelo híbrido

O equilíbrio entre os diversos fatores mencionados anteriormente parece estar no modelo híbrido, que consiste na combinação de trabalho remoto com trabalho presencial. Ou seja, uns dias são em casa, outros são no escritório. 

Neste regime de trabalho, o funcionário trabalha fora do escritório (geralmente em casa, o chamado home office), exerce as mesmas funções e os mesmos horários que no escritório, comunica constantemente com a sua equipa e utiliza recursos tecnológicos providos pela empresa. Também os seus direitos são exatamente os mesmos que tem no escritório.

A nível nacional, muitas empresas adotaram este sistema. Aparentemente, este é o mais vantajoso quer para os trabalhadores quer para as empresas.

Além do tempo que se poupa em viagens, podermos passar mais tempo com os nossos animais e receber as encomendas que fizemos online, há mais vantagens no modelo híbrido. E não só para os trabalhadores:

Redução de custos

As empresas têm menos gastos na manutenção das instalações, além de que o espaço propriamente dito pode ser mais pequeno por receber menos colaboradores em simultâneo (logo, um aluguer mais reduzido). Os funcionários têm menos despesas de deslocações ao local de trabalho e de alimentação. 

Mais flexibilidade, mais produtividade

Quando existe flexibilidade e autonomia, os colaboradores geralmente sentem-se mais felizes porque podem gerir o seu tempo e equilibrar a vida profissional com a vida pessoal. Com esse poder em mãos podem ter um melhor desempenho e oferecer melhores resultados à empresa.

Menos rotatividade e menos burocracias

Quando um trabalhador está satisfeito, tende a permanecer na mesma organização, o que permite à empresa focar os seus recursos na melhoria da dos produtos e serviços e no enriquecimento dos próprios trabalhadores, em vez de ter de os desperdiçar na procura incessante de novos funcionários e na formação dos mesmos. 

Maior leque de candidatos 

Muitos profissionais, sobretudo os mais jovens, procuram atualmente um regime de trabalho remoto ou híbrido, pela sua flexibilidade. Se as organizações oferecerem estas vertentes, expandem-se as possibilidades de atrair bons candidatos. 

Redução da pegada ecológica

Se durante o confinamento se verificou uma redução de emissões de CO2, um modelo que exige menos deslocações às instalações da empresa pode também contribuir para a redução da pegada ecológica – sobretudo se existir flexibilidade da carga horária, pode significar também menos consumo de eletricidade.  

Um modelo híbrido de sucesso

A importância da estratégia

Para que a adaptação a um novo paradigma de trabalho seja bem-sucedida, é fundamental que a empresa defina uma estratégia bem ponderada.

Fazer o ponto de situação

O que é que já não faz sentido? O que trouxe melhores resultados nos últimos 2 anos? O que manifestam os colaboradores? Como podemos trabalhar de uma forma mais inteligente para manter ou melhorar os Indicadores de Desempenho (KPI’s)? 

Considerar os vários cenários

Há quem prefira ir sempre ao escritório, os que trabalham em casa, mas com filhos, há os novos colaboradores que mal conhecem a equipa, entre outros.  Assim, é importante considerar todo o espectro de contextos para acolher todos os funcionários de forma equilibrada.

Aprimorar a comunicação

Uma boa comunicação entre líderes e equipa vai garantir que estão todos alinhados e que todos cumprem a sua parte. Importa explicar claramente eventuais novas políticas da empresa, os requisitos não negociáveis e as preferências de comunicação.

Autonomia q.b.

Não basta dar autonomia às pessoas. Há que definir expressamente quais são as tarefas, os dias e os horários a ser cumpridos. Assim, os próprios colaboradores sentem mais confiança e poderão gerir a sua autonomia com maior eficácia.

Fonte: Unsplash
Uma liderança de pulso

As empresas devem apostar em quem gere o seu negócio e as suas equipas. Também os líderes precisam de autonomia e flexibilidade para poderem envolver-se e promover a experiência dos funcionários de forma personalizada, sobretudo porque são peças vitais para conectar todos.

Integração de novos colaboradores

Quem vem de fora tem menos contacto presencial com a equipa, pelo que a sua integração pode ser mais complexa. A empresa deve apostar numa dinâmica digital forte, com procedimentos tecnológicos e burocráticos práticos, para conseguir transmitir a cultura organizacional e as métricas pelas quais se rege.

Entretanto, como podem os colaboradores melhorar a sua experiência remota?

Ainda que haja muitas vantagens no teletrabalho e no trabalho remoto, nem tudo são rosas. E não são só as empresas que se preocupam com a eficiência do trabalho fora do escritório. 

Segundo o já mencionado Relatório da GitLab, os colaboradores têm vários receios relativamente ao teletrabalho, destacando-se a falta de interação presencial com os seus colegas e também a dificuldade em separar a vida pessoal da profissional.

Fonte: Remote Work Report (2021), GitLab

Estas são algumas maneiras de tornar a experiência remota mais eficiente:

  • Garantir que dispõe todos os recursos necessários

Um computador e internet com ligação estável são imprescindíveis para que o trabalho em casa flua. Sem eles, não só atrasa o seu trabalho como o dos outros. É útil saber como ultrapassar questões técnicas ou a quem pode recorrer caso surjam. Se for possível que o monitor tenha um tamanho adequado e que a cadeira onde se senta seja ergonómica, ainda melhor. 

  • Criar um ambiente de trabalho com disciplina

Estabeleça um horário de início e um horário de término para a jornada de trabalho, para evitar a sobrecarga já mencionada. Também o espaço físico deve estar preparado para o trabalho, com tudo o que necessita, incluindo um copo com água. Estas rotinas e rituais ajudam o cérebro a entrar no modo “trabalho” – e a sair dele também. 

  • Trabalho com disciplina

O que é prioritário para hoje? Defina logo de início quais são as prioridades para o dia (ou para a semana, se possível) e a meio da jornada pare para analisar se continua focado/a nessas prioridades ou se é necessário algum reajuste. 

  • Comunicação frequente com a equipa

Além de poder perceber como é que os seus colegas organizam o seu trabalho (talvez lhe tragam dicas úteis), pode procurar formas interessantes de se relacionar com eles, incluindo a possibilidade de se reunir presencialmente. O que importa é não cair no isolamento. 

Menos tempo de trabalho, mais vida: para onde vamos?

Não é novidade para ninguém, e muito menos era necessária uma pandemia para nos mostrar, que vivemos há muito numa cultura de enorme pressão, onde a vida profissional se sobrepõe frequentemente à vida pessoal numa espiral de produtividade e esgotamento, conexão tecnológica e desconexão anímica. 

Mas houve algo que a pandemia nos mostrou: que há coisas que até então eram impensáveis e, afinal, são possíveis. Por isso, é realista explorar outras oportunidades, outras maneiras de trabalhar. Até porque os países onde se trabalha mais horas por dia, como vemos, não são os que revelam uma economia melhor – nomeadamente, Portugal. 

O que podemos aprender com outros países 

Recentemente o Reino Unido iniciou um período experimental de redução dos dias de trabalho. A ideia é manterem a produtividade nos 100%, mas trabalhando 80% e recebendo o salário habitual. Durante 6 meses, trabalhadores de quase 100 empresas vão estar a trabalhar durante 4 dias por semana. 

Ao longo desse período será analisada essencialmente a relação entre o tempo de trabalho e a produtividade. 

Já na Suécia, há quase uma década, diversas empresas experimentaram reduzir a carga horária de 8 para 6 horas de trabalho diário (em start-ups, hospitais, indústria automóvel, entre outros). Algumas entidades tiveram de fazer novas contratações para colmatar as horas remanescentes, é certo, mas noutras a produtividade dos funcionários aumentou, sem necessidade de mais postos de trabalho. Seja como for, não representam ambas as situações um bom sinal? No primeiro cenário, por ser uma oportunidade de reduzir a taxa de desemprego, no segundo porque os funcionários apresentariam mais eficiência e mais satisfação, logo a probabilidade de se manterem na empresa a longo prazo também aumentaria. 

Entre 2015 e 2019, também a Islândia testou a redução da carga horária por semana, mantendo integralmente os salários, e os resultados foram claros: a produtividade manteve-se ou melhorou na maioria dos locais de trabalho (escolas, escritórios, serviços sociais e hospitais). 
Além disto, também beneficiamos por ser uma opção potencialmente mais sustentável para o meio ambiente, como demonstra um relatório da Platform London, feito no Reino Unido em 2021:

Fonte: Platform London

E em Portugal, qual é o panorama?  

Em Portugal também já se começa a falar na possibilidade de uma jornada de trabalho mais reduzida, mas ainda precisamos de esperar um pouco mais. Naturalmente, existem receios associados a esta perspetiva de uma semana de trabalho reduzida, nomeadamente a necessidade de expandir os postos de trabalho e os encargos fiscais e sociais que daí advenham. 

A proposta de lei para um horário reduzido de trabalho já foi debatida e aprovada na discussão do Orçamento do Estado, e está a ser desenvolvido um estudo para aferir a viabilidade da semana de quatro dias. A outra boa notícia é que, sabendo deste projeto, diversas empresas já se voluntariaram para o experimentar. 

Segundo este artigo, a Worten, a Xerox, a Blip e a JLL são algumas das empresas em Portugal onde os funcionários beneficiam de menos horas de trabalho à sexta-feira. 

 

No caso da Jelly, a redução de horário da semana de trabalho também já é uma realidade, com uma jornada de 7h30 diárias. E no período de verão há ainda a possibilidade de, à sexta-feira, os colaboradores poderem sair mais cedo ainda. Sobretudo desde a pandemia, com a imprescindibilidade do teletrabalho e a melhoria dos procedimentos tecnológicos, muitas organizações adotaram um modelo de trabalho menos rígido.

Por um lado, tem-se constatado que a flexibilidade e a autonomia no trabalho trazem muitos benefícios tanto para as empresas como para os trabalhadores (em especial o regime híbrido de trabalho), especialmente graças à redução de custos e de processos burocráticos.

Por outro lado, há mais resistência no que toca à possibilidade de diminuir a carga horária semanal de trabalho. 

O certo é que, particularmente nestes últimos dois anos, tornou-se flagrante a urgência de repensar o modelo de trabalho em que temos atuado, não só pelo estado de burnout em que muitos indivíduos se encontram pelo desequilíbrio entre vida profissional e pessoal, como pela constatação de que mais tempo de trabalho não significa obrigatoriamente maior sucesso das empresas ou da economia de um país. 

Enquanto isso, vamos aprendendo com as experiências de outros países, que já testaram ou estão a testar regimes laborais com menos horas de trabalho por semana, para analisar como é que se pode aplicar essa hipótese a nível nacional.